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abr 4, 2020
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Especialistas explicam como seu corpo reage na quarentena

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Isolamento social pode afetar desde a concentração em tarefas cotidianas até em aspectos físicos, causando dores de cabeça e náuseas.

Sem poder sair de casa para cumprir atividades rotineiras, como levar os filhos para a escola, trabalhar, se exercitar, ou visitar amigos e familiares, o brasileiro tem passado por uma experiência sem precedentes nos últimos dias. Há mais ou menos duas semanas, desde que os governadores decidiram decretar quarentena para combater a pandemia do novo coronavírus, o isolamento social se tornou uma realidade em todo o País.

Com exceção dos profissionais que atuam em áreas consideradas essenciais, o trabalhador teve sua rotina interrompida e passou a ficar em casa, na espera de que a situação melhore. A medida, que já preocupa por conta dos reflexos ainda incalculáveis na economia, também deve atuar diretamente na saúde do indivíduo.

Segundo especialistas, ficar confinado pode afetar não só o emocional, como também o campo físico de uma pessoa. “O contato social interfere na liberação de neurotransmissores como endorfinas, dopamina, serotonina e ocitocina, responsáveis pela sensação de bem estar, de amor e empatia”, explica o neurocirurgião e neurocientista do Hospital das Clínicas de São Paulo Fernando Gomes.

Sendo assim, ele afirma que o isolamento pode provocar “certo embotamento psicológico, frieza e distanciamento das emoções positivas”. Na prática, isso significa que, no começo, com a redução da entrada de informações do meio ambiente, a pessoa pode aumentar seu poder de concentração em experiências subjetivas e sensações, porém com o passar do tempo, o quadro muda. “Podendo provocar ansiedade por pensamentos recorrentes e sensação de distorção da noção do tempo e da realidade”, completa.

A especialista em psicossomática Maria José Femenias Vieira comenta que a adaptação pode ser difícil por sermos seres sociais e até mesmo dependente da relação com o outro. Por isso, é comum ocorrer “estranhamento e sensação de desamparo, abandono, incertezas, solidão, depressão,ansiedade, paranoia, sentimento de baixa autoestima e até psicose”.

Agravamento de depressão e ansiedade

Dores físicas também podem ser sintomas da privação social durante a quarentena
Foto: Pixabay

Se até mesmo quem tem um quadro mental saudável pode ser afetado negativamente pela quarentena, pessoas com histórico de depressão e ansiedade devem redobrar os cuidados nesse período, já que os problemas poderão ser agravados com a falta de interação social.

Nesses casos, a recomendação de Gomes é não interromper a medicação que faz uso e buscar ajuda, se for necessário. “É possível recorrer à psicoterapia à distância, conversar com pessoas queridas pelo telefone para diminuir o distanciamento social e também evitar o contato com notícias negativas sensacionalistas”.

Dores físicas refletem estresse do momento

Não é só o emocional que é afetado diante do privamento social. Dores de cabeça, dores de estômago, dores nas costas, insônia, fadiga e até náuseas podem aparecer como “sintomas” da quarentena.

De acordo com o neurocientista do Hospital das Clínicas, inicialmente o poder de concentração nas próprias experiências subjetivas aumenta e somado ao momento de tensão e preocupação com a saúde, com a vida e com a morte, é natural que respostas psicossomáticas desagradáveis aconteçam.

Vieira complementa citando o endocrinologista húngaro Hans Selye, que foi o primeiro estudioso a definir o estresse. O autor descreve esse mecanismo em três fases: alerta, resistência e exaustão.

“Na fase de alerta temos à disposição recursos para enfrentarmos a situação. A principal substância relacionada a este momento é a adrenalina. Podemos lutar ou fugir. No entanto, se a ameaça persiste, entramos na fase de resistência. Ela é caracterizada por sintomas tais como alterações no ritmo do sono, sintomas digestivos, tonturas, dificuldades sexuais, tédio, irritabilidade, ‘vontade de fugir’ e dores de localizações variadas”, afirma.

A especialista em psicossomática destaca que por estarmos vivendo um momento de imprevistos e para muitos “assustador”, qualquer tensão emocional pode tornar-se mais intensificada e acabar sendo representada por sintomas físicos.

A conexão com outras pessoas, ainda que de uma forma digital, é uma saída para atenuar o estresse e, consequentemente, problemas físicos. Vieira dá o exemplo dos idosos que não sabem lidar com redes sociais, por exemplo.

“Eles poderão ter sintomas e doenças mais precocemente, porque o sentimento de solidão será muito intenso. Sendo assim, são grandes as chances de teremos mais sintomas e doenças não relacionadas a covid-19, pelo fato dos recursos da fase de resistência irem diminuindo até entrar na fase de exaustão, em que as doenças se manifestam de forma mais intensa dependendo das características físicas herdadas e adquiridas ao longo da vida”, pondera, chamando a atenção para as consequências que o isolamento poderá ter à saúde da pessoa e à saúde pública.

Lidar de forma leve

Por mais clichê que possa parecer, tentar ver o lado positivo ou ao menos evitar pensamentos ruins nesse momento são práticas fundamentais para enfrentar o isolamento de maneira saudável.

“Lembrar que o isolamento social não é para sempre, manter o pensamento positivo, mas de forma racional, tentando tirar o máximo de proveito desta situação são dicas valiosas”, recomenda a especialista.

Gomes finaliza com outras indicações que podem ajudar a diminuir os efeitos negativos. “Criar uma rotina, estabelecer horários e escolher fontes seguras de informação, são jeitos de encarar esse momento sem muitos prejuízos. Praticar exercícios físicos moderados, evitar excesso de comida, cigarro e café, abrir as janelas para ventilar a casa e expor-se à luz solar também dão resultado. Conversar com pessoas queridas pelo telefone. Reservar um momento ao dia para meditar, orar e praticar exercícios de respiração também são jeitos de lidar com a quarentena”.

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