Após pressão de cientistas e jornalistas, o governo de São Paulo e o Instituto Butantan anunciam na terça-feira (12) a taxa de eficácia geral da Coronavac, vacina contra o novo coronavírus desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac e produzida no Brasil pelo Instituto Butantan. A taxa, que considera a análise de todos os voluntários infectados pela covid-19, é de 50,4%.
O número é inferior ao apresentado na semana passada pelo governo paulista, de 78%. Como oEstadão revelou, a taxa anteriormente divulgada referia-se somente a um recorte do estudo: ao grupo de voluntários que tiveram casos leves de covid-19, mas com necessidade de atendimento médico. A eficácia geral divulgada nesta terça-feira inclui também voluntários que foram infectados pelo coronavírus e não tiveram sintomas que necessitaram de atenção médica, classificados como casos muito leves.
A taxa de eficácia geral é o principal indicador medido pelo estudo da Coronavac (o chamado desfecho primário), segundo protocolo da pesquisa. Embora inferior à primeira taxa divulgada, o índice de 50,4% não deve impedir a aprovação do imunizante pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que exige eficácia mínima de 50%.
No último dia 7, a gestão de João Doria (PSDB) afirmou que o imunizante tem 78% de eficácia contra casos leves da doença e 100% contra os quadros graves e moderados. Porém, como já foi dito, os dados referem-se só a um recorte do estudo.
O diretor médico de Pesquisas Médicas do Instituto Butantan, Ricardo Palácios, afirmou nesta terça-feira que aeficácia da vacina no uso para a população em geral “deve ser bem mais alta” do que a encontrada durante os estudos de fase 3 do imunizante. Segundo reforçou o pesquisador responsável pelo estudo, os testes foram realizados com profissionais da saúde voluntários e, portanto, não necessariamente representam os resultados encontrados entre a população geral.
Segundo Palácios, 85 participantes do estudo clínico que receberam a Coronavac tiveram sintomas muito leves ou não tiveram nenhum, contra 167 do grupo controle. “Temos uma vacina capaz de controlar a pandemia por diminuir a intensidade da doença”, afirmou.
Palácios disse que o começo da segunda onda da covid-19 no Brasil colocou um “estresse absolutamente extraordinário” sobre os testes clínicos de fase 3 da Coronavac. “Nenhuma outra vacina foi submetida a este estresse. Por isso, a incidência no grupo placebo é várias vezes superior à taxa de ataque (incidência da covid-19) de qualquer outra vacina que publicou dados até agora”, disse Palácios. Segundo o diretor, os testes levaram em consideração 101 casos a mais que os 151 necessários para validação dos resultados.
ATRASO
Um pouco antes do anúncio, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, questionou o prazo para que a Anvisa analise o uso emergencial da Coronavac, vacina contra a covid-19 desenvolvida em parceria com a chinesa Sinovac. “Por que atrasar o uso da Coronavac?”, afirmou. “Ela tem segurança e eficácia”, completou Covas.
Durante o anúncio, Covas relembrou que a vacina foi duramente criticada por conta da origem, uma vez que foi desenvolvida em parceria com uma farmacêutica chinesa. “Isso é uma virtude”, disse o diretor do instituto. “Se isso não tivesse acontecido, não teríamos milhões de doses na prateleira esperando uso”, afirmou.