A pandemia do novo coronavírus teve efeito devastador sobre o mercado de trabalho com carteira assinada do ABC. No primeiro mês totalmente afetado pela quarentena adotada para conter a covid-19, foram fechadas 17.295 vagas formais na região em abril, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados quarta-feira (27) pelo Ministério da Economia.
Trata-se do pior resultado mensal da série histórica do Caged, iniciado em 1992. Até o mês passado, o recorde negativo havia sido registrado em dezembro de 2015, com o fechamento de 8.988 postos de trabalho.
O impacto da pandemia sobre o mercado de trabalho começou a ser sentido em março, quando foram extintas 6.117 ocupações celetistas (veja quadro ao lado). Foi na segunda quinzena daquele mês que as medidas de isolamento social e restrição às atividades não essenciais foram adotadas.
No segundo bimestre, os sete municípios acumulam saldo (contratações menos demissões) de 23.412 vagas fechadas. Já no acumulado do ano, cujo resultado foi atenuado pelos 3.341 empregos criados em janeiro e fevereiro, o saldo de 20.071 postos extintos representa queda de 2,83% sobre o estoque existente no dia 31 de dezembro (709.579).
Os números foram anunciados depois de quatro meses sem publicações. O Caged foi divulgado pela última vez em janeiro, quando foram revelados os dados referentes ao ano passado. Desde então, o anúncio das informações, que era feito mensalmente, foi suspenso.
Segundo o governo, as empresas estão tendo dificuldades para enviar os dados por conta da adoção do programa eSocial e devido às medidas de isolamento social provocadas pela pandemia, que levou ao fechamento dos escritórios.
“O resultado negativo já era esperado. Outra má notícia é que os dados de maio tendem a ser piores e não há nenhuma garantia de recuperação no emprego no segundo semestre, mesmo que a pandemia seja debelada”, afirmou o economista Ricardo Balistiero, coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia.
O economista prevê que o ABC encerrará este ano com queda de 5% a 10% no estoque de trabalhadores com carteira assinada – projeção que, se confirmada, representará perdas de 35,5 mil a 71 mil empregos.
Balistiero destaca que, mesmo após o encerramento da quarentena, a atividade econômica vai demorar para retomar o patamar pré-pandemia.
“Quando for autorizado a retornar, o comércio não essencial terá várias limitações, tanto de horário como de acesso de pessoas ao interior das lojas. Além disso, o consumidor vai pensar duas vezes antes de ir, por exemplo, a um shopping, o que só vai acontecer quando se sentir seguro. Por fim, a reabertura se dará em um ambiente econômico debilitado, de maior desemprego e menor renda”, disse Balistiero.
SETORES
Diferentemente do que ocorria até o ano passado, o Ministério da Economia não divulgou o recorte municipal por atividades econômicas.
No Estado de São Paulo, onde foram eliminados 260 mil empregos em abril, os setores mais afetados foram o agregado comércio e reparação de veículos, com 67,4 mil vagas fechadas, seguido pela indústria (54,6 mil) e pelos serviços de alojamento e alimentação (-40,6 mil), transporte e armazenagem (14,3 mil).
Prorrogação de benefício será avaliada ‘no momento oportuno’
O secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, afirmou no dia 27 que, “por ora”, não se pode pensar na prorrogação do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda do governo federal. Segundo Bianco, a decisão sobre a ampliação ou não dos prazos do programa será tomada em momento oportuno, juntamente com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e com o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido).
No programa, o governo federal paga Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm) para os trabalhadores que tiveram seus contratos de trabalho suspensos em razão da pandemia, ou que tiveram redução proporcional de jornada de trabalho e de salário.
Desde 1º de abril, data da edição pelo governo federal da Medida Provisória (MP) 936/2020, que criou o programa, foram preservados mais de 8,1 milhões de empregos no país.
“O governo avalia que de fato é um programa muito exitoso. O momento agora da nossa secretaria é de avaliar os efeitos desta política. Portanto, já até adianto que, por ora, não se pode nem pensar em prorrogação”, disse o secretário. “Se vai ser ou não ampliado, isso é uma decisão que tomaremos no momento oportuno em conjunto com o ministro (Guedes) e o presidente da República e, aí sim, também com as medidas de retomada”, afirmou Bianco.
Segundo o secretário, paralelamente à avaliação do programa emergencial, a pasta já tem medidas de retomada “prontas”, na “mesa”, para serem lançadas no momento oportuno, que vão atacar o desemprego “diretamente”. “Medidas de fomento à contratação, tudo na nossa mesa e prontas para, no momento oportuno, divulgá-las”, disse.
SEM SURTO
O secretário de Trabalho da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, Bruno Dalcolmo, por sua vez, afirmou que não espera um “surto” no mercado de trabalho uma vez que, quando as medidas emergenciais em vigor forem encerradas, o país deverá ter superado a crise sanitária, ou já estará bastante controlada, em sua visão.
País tem 763,2 mil vagas fechadas no acumulado do 1º quadrimestre
O mercado de trabalho brasileiro fechou 763,2 mil empregos com carteira assinada de janeiro a abril, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados quarta-feira (27), pelo Ministério da Economia.
O acumulado é resultado de 4,999 milhões de admissões e 5,763 milhões de demissões.
Primeiro mês totalmente afetado pela pandemia do coronavírus, abril registrou o fechamento de 860,5 mil vagas. Foram feitas 598,6 mil contratações e 1,459 milhão de desligamentos no período.
O fechamento de 860,5 mil vagas formais em abril é o pior para todos os meses da série histórica, segundo a coordenadora-geral de Cadastros, Identificação Profissional e Estudos da Secretaria de Trabalho da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, Mariana Eugênio.
Em coletiva à imprensa, Mariana ponderou que, apesar do recorde negativo, o mês de abril foi atípico em razão da pandemia do novo coronavírus, e pelo fato de a crise ter afetado muito as admissões.