Os proprietários de veículos flex acostumaram-se a abastecê-los com etanol entre abril e dezembro, quando a safra de cana de açúcar derruba os preços do renovável nos postos de combustível. Porém, não é o que ocorre neste ano. O valor do produto não para de subir nas bombas, a ponto de a gasolina ser mais vantajosa na hora de abastecer, mesmo com a disparada do petróleo no mercado internacional.
Na semana passada, o etanol era vendido, em média, a R$ 4,219 o litro nos estabelecimentos do ABC, valor 37,4% superior ao apurado no final de dezembro (R$ 3,071), segundo pesquisa da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), com dados compilados pelo Diário Regional. Em 12 meses, a alta acumulada chega a 75,1%.
Ainda segundo a ANP, o combustível variou entre o preço mínimo de R$ 3,949 (encontrado em postos localizados em Santo André) e o máximo de R$ 4,699 (São Caetano).
Em termos nominais (sem considerar a inflação), o valor médio apurado na semana passada é o maior da série histórica da pesquisa da ANP. Em termos reais, trata-se de patamar mais alto, por exemplo, que o de maio de 2018 (R$ 3,228), quando a greve dos caminhoneiros interrompeu por dez dias o abastecimento de combustível nos postos e elevou os preços às alturas.
O economista e coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), Ricardo Balistiero, lembra que esse cenário é muito parecido com o vivido na década de 1980.
“Na época, o governo apostou suas fichas nos carros a álcool devido ao elevado preço da gasolina, mas depois (a estratégia) não deu muito certo porque havia falta do produto. Atualmente, os preços estão altos devido à estiagem, pois a produção de cana de açúcar não veio de forma consistente (na atual safra) e, por isso, ocorreu um problema de oferta e demanda que fez os preços subirem. Além disso, como o açúcar está em alta no exterior, os usineiros têm preferido canalizar a produção para exportação a produzir etanol”, explicou Balistiero.
Nas usinas paulistas, o etanol era vendido na semana passada a R$ 3,0004 o litro (valor sem impostos), segundo patamar nominal mais alto da história – atrás apenas dos 3,0488 apurados em meados de maio, conforme levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Cepea/Esalq).
Em relatório, o Cepea/Esalq explica que a demanda por etanol nas usinas paulistas enfraqueceu nas últimas semanas, devido à perda de competitividade do renovável nos postos. Porém, os preços no atacado continuam praticamente estáveis, uma vez que a produção ainda não deslanchou.
COMPETITIVIDADE
A gasolina, por sua vez, era comercializada, em média, por R$ 5,407 o litro no ABC na semana passada. O valor é 0,42% inferior aos R$ 5,430 apurados no levantamento anterior, maior patamar nominal da história da pesquisa da ANP.
Mesmo assim, a gasolina segue mais vantajosa nos postos da região, já que a paridade entre os preços do etanol e do derivado do petróleo está em 78,0%. Segundo a ANP, para que o renovável seja competitivo, a paridade precisa ser inferior a 70,0%. A gasolina é vantajosa quando a relação é superior a 70,4%.