A retomada da atividade econômica no mundo impulsionou a recuperação das exportações de empresas do ABC no primeiro semestre deste ano, mas o aumento em maior magnitude das importações, especialmente autopeças, levou a balança comercial da região no período ao maior déficit em 24 anos.
É o que mostram dados da plataforma Comex Stat, do Ministério da Economia, compilados pelo Diário Regional. Segundo o portal, os embarques do ABC para o exterior na primeira metade deste ano cresceram 57,2%, para US$ 2,07 bilhões. É o melhor desempenho para o período desde 2018.
Na mesma comparação, as importações registraram alta de 53,9%, para US$ 2,65 bilhões, maior resultado desde 2014.
O aumento expressivo tanto nas exportações como nas importações já era esperado, tendo em vista a base de comparação fraca do primeiro semestre de 2020. “Naquele período, o comércio internacional praticamente parou devido às medidas adotadas para conter a primeira onda da pandemia de covid-19. Assim como as empresas, a infraestrutura aeroportuária também foi impactada pela pandemia”, lembrou Marcos Andrade, diretor do Departamento de Relações Exteriores do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).
Houve crescimento nas principais pautas exportadoras dos sete municípios. Na comparação entre os primeiros semestres de 2020 e 2021, os embarques de veículos aumentaram 91%, para US$ 731 milhões, assim como o envio de autopeças (de 97%, para US$ 147,2 milhões) e de máquinas e equipamentos (de 34,1%, para US$ 245,6 milhões).
Porém, como as importações cresceram mais do que as exportações no primeiro semestre em termos nominais, o saldo da balança comercial da região piorou e ficou negativo em US$ 579,1 milhões, o maior déficit para o período desde 1997, primeiro ano da série histórica disponibilizada pelo portal Comex Stat.
O saldo negativo foi puxado pelo segmento de autopeças, que elevou em 70,3% as importações, para US$ 618,17 milhões. Com isso, o déficit comercial do setor ficou em US$ 471,0 milhões, contra US$ 289,17 milhões no primeiro semestre do ano passado e US$ 349,82 milhões nos seis meses iniciais de 2019 – antes, portanto, da eclosão da crise sanitária.
O setor automotivo sofre, desde o início da pandemia, com o aumento no preços dos insumos, decorrente do desequilíbrio entre oferta e demanda, do câmbio e da cotação internacional das commodities.
Para o diretor do Departamento de Relações Exteriores do Ciesp, a pandemia provocou “desarranjo” na cadeia automotiva. Essa desordem foi potencializada pelo dólar valorizado (variando entre R$ 5,10 e R$ 5,60), o que encareceu a compra de matérias-primas e componentes que entram no processo produtivo das indústrias, e pela disparada internacional nos preços de alguns insumos.
“Teve a questão do dólar, que esteve bastante elevado, o que impacta as empresas que dependem de matérias-primas importadas, e houve desarranjo não só na cadeia automotiva, mas em várias cadeias, em função de paradas na produção ou de medidas sanitárias adotadas para conter a propagação do vírus, as quais reduziram a produção e, eventualmente, podem ter forçado algumas empresas a substituir conteúdo local por importado”, afirmou Andrade.
Outra possível explicação, segundo o diretor do Ciesp, é que as empresas, para se precaver de eventuais falhas na cadeia logística e da escassez global de suprimentos, tenham feito estoques de segurança maiores do que os habituais.