Ainda pressionado pelos preços de alimentos e, desta vez, também por remarcações de eletrodomésticos e de alguns serviços, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deu um salto em outubro e alcançou a maior variação para o mês desde 2002. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o indicador oficial de inflação chegou a 0,86%, ante 0,64% em setembro.
Diante do número, o mercado voltou a ajustar para cima as estimativas para a inflação no ano – para algo entre 3% e 3,5%, ainda abaixo do centro da meta de 4% perseguida pelo Banco Central. Para os analistas, mesmo com o novo recorde, a percepção ainda é de um fenômeno temporário. Esta é a opinião de Vitor Vidal, economista da XP Investimentos, para quem a elevação recente do IPCA é um “choque temporário, por mais que seja prolongado”.
Segundo João Fernandes, economista e sócio da gestora de recursos Quantitas, o número de outubro “reforça as preocupações” recentes, mas “ainda há muitos fundamentos para continuar caracterizando essa inflação como algo temporário”. Assim, completa, não haveria “processo persistente de piora da inflação”.
A referência feita por Fernandes sobre o “reforço das preocupações” tem a ver com o chamado índice de difusão, que mede a proporção de itens com alta de preços diante do total monitorado. Segundo o IBGE, esse índice foi de 68% em outubro (ante 63% em setembro), o maior do ano. Os alimentos puxaram esse espalhamento, mas a continuidade do avanço da difusão na passagem de setembro para outubro sugere que o movimento foi além dos alimentos.
“Há uma difusão maior. Boa parte é nos alimentos, mas há outros componentes”, afirmou Pedro Kislanov, gerente do IPCA.
Isso aparece na aceleração da inflação dos grupos vestuário (1,11%, ante 0,37% em setembro, na segunda alta seguida) e artigos de residência (1,53%, ante 1% em setembro). Os preços dos artigos de casa tiveram a segunda maior variação entre os nove grupos do IPCA. A alta de outubro foi influenciada pelos eletrodomésticos e equipamentos, com avanço de 2,38%.
O espalhamento também foi visto nos serviços, com alta de 0,55% em outubro, a maior desde fevereiro. Segundo Kislanov, a alta se deve a um movimento pontual nas passagens aéreas (alta de 39,83% em outubro), mas incluiu serviços como manicure (que acelerou de 0,37%, em setembro, para 0,75% em outubro) e cabelereiro e barbeiro (que passou de -0,37% para 0,64%).
A inflação de alimentos, ainda que tenha arrefecido (para 1,93%, ante 2,28% em setembro), respondeu por quase metade do avanço agregado do IPCA, com impacto positivo de 0,39 ponto porcentual no total.