Em meio à pandemia de covid-19, o ABC teve crescimento vegetativo negativo no primeiro semestre. Na prática, significa que houve mais óbitos do que nascimentos no período de janeiro a junho deste ano. É a primeira vez que isso acontece.
É o que revelam dados no Portal da Transparência do Registro Civil – administrado pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen Brasil) – cruzados com os dados históricos do estudo Estatísticas do Registro Civil, promovido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base nos dados dos próprios cartórios brasileiros.
Nunca se morreu tanto e se nasceu tão pouco na região. Segundo o portal, os cartórios dos sete municípios registraram 14.444 óbitos no primeiro semestre deste ano. O total, que é o maior da história em um primeiro semestre, é 45,6% maior que o ocorrido no mesmo período de 2020, com a pandemia já instalada no país. Em comparação aos seis primeiros meses de 2019, ano anterior à chegada do novo coronavírus, o aumento no número de mortes foi de 78% (veja gráfico acima).
Por outro lado, a quantidade de nascimentos registrou o mais baixo patamar em um primeiro semestre da série histórica. Até junho foram registrados 14.187 nascimentos no ABC, número 8,6% inferior ao do mesmo período do ano passado. Ante os seis primeiros meses de 2019, anteriores à chegada da pandemia, a redução é de 13,7%.
Como resultado do aumento no número de mortes e da redução da quantidade de nascimentos, os sete municípios registraram crescimento vegetativo negativo, ou seja, a população encolheu em 257 habitantes.
Normalmente, o número de mortes só excede o de nascimentos em países muito desenvolvidos. É o caso do Japão, onde a taxa de natalidade é extremamente baixa. O fenômeno, porém, já foi registrado de forma excepcional e pontual em momentos de tragédia e profunda desestruturação social. Foi o que ocorreu na Segunda Guerra Mundial, com a epidemia de Aids em alguns países da África e no colapso da antiga União Soviética.
Também é normal que as pessoas tenham menos filhos em um momento de crise, daí a redução no número de nascimentos verificada nos dados da Arpen Brasil.
A tendência é de que o crescimento vegetativo volte a ser positivo no segundo semestre. “Depois da violenta segunda onda da pandemia, começamos a ver o resultado efetivo do aumento da vacinação – que, mesmo a passos lentos, já traz reflexo para a população mais velha e deve ser incrementada para também proteger os mais novos, de forma a reduzir o número ainda alto de mortes pela doença”, afirmou o presidente da Arpen Brasil, Gustavo Renato Fiscarelli.
COVID
Ainda de acordo com o portal, o ABC registrou 6.246 óbitos por covid-19 no primeiro semestre deste ano, ante 1.772 no mesmo período de 2020. Na prática, de cada sete mortes registradas nos cartórios da região, três tiveram o novo coronavírus como causa.
Além das mortes provocadas diretamente pela pandemia, há elevação do número de óbitos por outras causas. Isso acontece por conta do colapso do sistema de saúde.