Comemoramos hoje 72 anos da autonomia de São Caetano do Sul. Primeiramente, agradecer os audazes articuladores vivos do feito de 1948, Desiré Malateaux. Mário Porfírio Rodrigues e Ettore Dal’mas, e reverenciar a memória de todos os demais que já nos deixaram. A pequena grande São Caetano teve, nesse período, apenas nove mandatários eleitos para o poder executivo, indicando uma política conservadora que reflete o tradicionalismo das suas raízes familiares. Experimentou grande desenvolvimento econômico com sua industrialização e comércio nos seus exíguos 15km², sob o comando de núcleos oligárquicos de imigrantes ou migrantes que influenciaram sobremaneira nos processos eleitorais locais.
É hoje uma cidade acolhedora, de notável IDH por sua expectativa de vida, renda per capita e Educação, tornando-se um lugar de grande procura para se morar.
História de sucesso, glória de um passado que cultuamos com gratidão. Agora é uma urbe cosmopolita e a palavra autonomia não mais reflete posse de território; antes, deve-se consubstanciar na autodeterminação da sua gente que, com grau de discernimento acima da média, não abre mão de exercer sua cidadania, sua liberdade de escolhas, seu direito de opinar e participar sem constrangimentos e sem ameaças pessoais. Somos pouco mais de 160000 vidas inseridas no coração de uma megalópole, cercados pelos conflitos de 15 milhões de habitantes. Não somos a ilha paradisíaca que a maquiagem do marketing político projeta na tela da fantasia; não é possível construir muros para nos isolarmos da realidade que nos cerca. Não devemos nos alienar. Compreendido o óbvio, escancara-se a necessidade de governos com coalizões intermunicipais regionais ativas, pensantes coletivamente, articulados no âmbito estadual e federal e imunes às idiossincrasias entre prefeitos e prefeituráveis. Uma visão otimista de futuro não pode deixar de contemplar princípios básicos democráticos, como a alternância no poder, interrompendo ciclos que tendem a vieses de autocracia, a ranços coronelistas, tão bem descritos por Raymundo Faoro no seu clássico -“Os Donos do Poder”.
A arrogância e o ensimesmamento egocêntrico ditato-rial são surdos aos apelos da razão que não sejam os da sua ética utilitarista e apequenam a diversidade do debate. Esta conduta turva a transparência, maior inimiga da corrupção, seja nas ideologias de esquerda ou de direita. A Nova Autonomia exige não compactuar com candidatos a ditadores, que crescem nos infortúnios como a pandemia atual, quando cemitérios eloquentes expõem a vulnerabilidade da raça humana frente a um vírus.
O best-seller “Como as Democracias Morrem” (Steven Levitsky e Daniel Ziblatt), relata outros tantos modos para se perpetuar no poder, a começar pelo próprio processo eleitoral. … “É assim que os autocratas eleitos subvertem a democracia-aparelhando tribunais e outras agências neutras e usando-os como armas, comprando a mídia e o setor privado (ou intimidando-os para que se calem) e reescrevendo as regras da política para mudar o mando de campo e virar o jogo contra os oponentes.
O paradoxo trágico da via eleitoral para o autoritarismo é que os assassinos da democracia usam as próprias instituições da democracia – gradual, sutil e mesmo legalmente – para matá-la”. Impingindo medo, desqualificando opositores ou aliciando caráteres vendáveis, déspotas se blindam e se asseguram no poder. Maquiavel que o diga. Mas, o tempo, senhor da razão, coloca os louros nas cabeças certas. Assim, os que se digladiam politicamente em tempos de hoje, em louvor aos honrados cidadãos que ajudaram a construir a História vitoriosa desta cidade, não desvirtuem este passado glorioso. Preservem as suas biografias cultivando a Nova Autonomia.
*José Roberto Espíndola Xavier (Dr. Xavier) – vice-presidente da Algrasp
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