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ago 4, 2020
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Rede estadual tem aumento de 554% nas matrículas em 2020

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Famílias do Grande ABC já decidiram trocar a educação privada pela pública, principalmente depois da pandemia. Apenas nas escolas estaduais localizadas na região, até o dia 28 de julho, houve aumento de 554,1% nas matrículas comparando com o mesmo período de 2019. Foram 314 transferências nos seis primeiros meses de 2020, contra 48, no ano passado, seis vezes mais.

De acordo com especialistas, desemprego e salários reduzidos da população são as principais razões para a mudança. A insegurança quanto ao retorno das aulas presenciais neste ano também tem influenciado. Quatro das sete cidades do Grande ABC – Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra – já descartaram a retomada. As demais devem seguir caminho semelhante. Hoje, às 15h, os prefeitos se reúnem virtualmente para discutir o assunto no Consórcio Intermunicipal do Grande ABC.

A decisão dos municípios em não retomar as aulas presenciais não interfere nas escolas estaduais e particulares, que estão sob gerência do Estado. Por enquanto, a estimativa do governador João Doria (PSDB) é que as aulas sejam retomadas dia 8 de setembro, mas o tucano já deu indícios de que pode mudar a data. A região conta com 243.436 alunos na rede estadual, 203 mil nas redes municipais e aproximadamente de 90 mil nos colégios particulares. As aulas presenciais estão suspensas desde 24 de março.

Enzo Feitosa Gaeta, 11 anos, aluno do 6º ano do ensino fundamental é um dos que saíram da rede privada para a pública. Sua mãe, Edilaine Aparecida Moreira Feitosa Gaeta, 39, perdeu o emprego com a chegada da pandemia e a renda da casa caiu. O salário seu pai, Salvador Gaeta, 38, que trabalha com entregas, também teve queda.

Além da questão financeira, outros fatores a levaram Edilaine a colocar o filho na rede pública. Ela explica que as aulas, que estavam acontecendo on-line na escola particular, eram bagunçadas, com vários alunos falando ao mesmo tempo e o professor sem conseguir controlar a situação. “Eu mesmo presenciei isso”, afirma. “Outra reclamação do meu filho foi que eles estavam passando muita revisão das matérias e nenhum conteúdo novo. Por isso, ele não queria mais assistir as aulas virtualmente”, explica.

Edilaine diz que tentou negociar algum abatimento nas mensalidades, mas não teve sucesso. “Conversei com o responsável pelo setor financeiro do colégio por diversas vezes, expliquei minha situação e pedi para verem a possibilidade de um desconto, pelo menos por três meses, mas a resposta foi ‘não’”, lamentou. “Hoje meu filho assiste às aulas e faz as atividades que disponibilizam no site. Faz um mês que ele migrou de escola e até o momento não reclamou”, diz. Sobre um possível retorno do filho às aulas presenciais, ela prefere que, por enquanto, as coisas continuem a distância. “Eles são crianças e não vão conseguir seguir as normas corretamente”, pontua.

A fotógrafa Suzete Carrera, 42, de São Bernardo, tem a filha Alice, 3, matriculada na rede privada. Ela não cogita tirar a criança da escola no momento, apesar de a renda de seu marido, Alexandre Carrera, 39, especialista em redes TI, ser a única da casa. Não o faz por não valer a pena financeiramente. “Se fizesse isso agora pagaria multa equivalente ao valor integral até dezembro. Se deixá-la matriculada, tem 40% de desconto na mensalidade até que as aulas presenciais sejam retomadas”, explica. “Se já está difícil com desconto imagina pagar o restante dos meses até o fim do ano de uma vez só. Impossível.”

Mas, mesmo que as aulas presenciais sejam retomadas, Suzete diz que não vai mandar Alice para a escola. “Ela tem 3 anos. Como vão conter as crianças? Elas se embolam para fazer qualquer coisa. Aliás, a Alice, adora exatamente essa muvuca dos amigos”, admite.

Na rede municipal, Santo André teve 249 novas matrículas de março até junho deste ano. Se comparado ao mesmo período do ano passado (452), é menor, mas isso porque o município inaugurou três creches no ano passado: Cata Preta (em abril), Mirante II, no Jardim do Mirante (em maio) e creche Larah Santos Campos, no Jardim Alzira Franco (em junho).

Em São Bernardo, de março até agora, foram realizadas 465 novas matrículas na rede municipal de ensino, o que representa acréscimo de 130% em relação ao mesmo período do ano passado. Em São Caetano não houve aumento. Em 2019 foram 200 novas matrículas e, neste ano, 186.

Especialista vê crise como responsável

Coordenadora geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Andressa Pellanda explica que a migração dos alunos da rede privada para a pública, neste momento, se deve pela crise, sobretudo financeira, gerada pela pandemia da Covid-19, que chegou ao País em março.

Ela explica que diversas famílias estão com responsáveis desempregados ou em situação financeira mais vulnerável, não podendo arcar com a manutenção das mensalidades de crianças na escola privada. “A crise gerada pela pandemia em um cenário que já era de crise está afetando significativamente a estrutura econômica das famílias. Estamos vivendo uma crise dentro de uma crise”, pontua a especialista.

Segundo Andressa, com o aumento de pessoas na rede pública, é preciso prover infraestrutura adequada para recebê-los, “em termos de estrutura dos prédios escolares, dos equipamentos, da formação dos profissionais da Educação, da valorização destes profissionais, das condições adequadas de trabalho, da relação professor-aluno”, diz.

Andressa explica ainda que o fato de um aluno sair da rede privada para a pública não significa que terá decréscimo de aprendizagem. Ela diz que o processo de aprendizagem não é linear nem padrão para cada estudante, mas sim individual e próprio.

Andressa afirma que não é só de conteúdos que o aluno aprende, mas também pelos processos, por meio de interação social, pelos estímulos diversos ao redor. “A qualidade da rede pública não pode ser comparada à da rede privada por generalização: há muita escola pública melhor que escola privada pelo País. E os estudantes aprendem ou não, não somente pela escola em que estão inseridos como também por todo o apoio que recebem na sociedade e na família”, diz.

Dirigente teme por particulares e diz que indefinição também prejudica

Presidente da Aesp (Associação das Escolas Particulares) ABC, Oswana Fameli confirma que as escolas particulares estão sofrendo, sobretudo, com a evasão dos alunos para a rede pública. Além disso, outro problema citado por ela é que há forte taxa de inadimplência com relação ao pagamento das mensalidades. Mesmo com a suspensão das aulas presenciais no Estado, desde o dia 24 de março, o trabalho junto aos alunos seguiu de maneira virtual.

Oswana faz alerta caso a situação siga assim e as escolas se mantenham fechadas. “Muitas delas, principalmente as de educação infantil, vão fechar as portas e terá demissão em massa”, constata a dirigente.

Oswana lembra que apesar da perda de alunos, as escolas seguem pagando seus tributos, aluguéis e folha de funcionários. Além disso, segundo a presidente, houve a necessidade de investir neste momento, “tanto em equipamentos de higiene e proteção, quanto em treinamento de seus profissionais para um possível retorno dos estudantes”. Isso sem contar o que já foi gasto com plataformas para que as aulas seguissem a distância neste período.

Ela pontua, no entanto, que é necessário que seja tomada uma decisão, de fato. “Que se faça logo este esclarecimento (sobre a reabertura ou não). A escola é essencial para a formação. Não dá para a gente ficar agonizando. Precisamos de um olhar acolhedor”, encerra a dirigente, que ainda não tem uma estimativa de quantos colégios podem fechar caso as aulas presenciais não sejam retomadas.

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