A pandemia do novo coronavírus teve efeito devastador sobre todo o mercado de trabalho com carteira assinada do ABC, mas foi mais cruel com os serviços. De cada dez empregos formais extintos em abril pela crise, praticamente cinco eram desse setor.
Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, os sete municípios perderam 17,3 mil postos de trabalho em abril. Desse total, o setor de serviços respondeu por 8.063, ou 46,7% do total.
A paralisação da economia após a adoção de medidas de isolamento social para conter o avanço do novo coronavírus reduziu de forma generalizada a renda e o gasto das famílias, que foram impedidas de saír de casa, o que limitou o consumo ao essencial. Nesse cenário, o setor de serviços foi o mais atingido.
Ainda segundo o Caged, o ramo dos serviços mais afetado no ABC – e, por consequência, o que mais perdeu postos de trabalho – foi o de alojamento e alimentação, com 1,9 mil vagas fechadas, seguido pelo de transporte, armazenamento e correios, com 1,7 mil.
Outro segmento fortemente atingido pela pandemia foi o agregado Atividades Administrativas e Serviços Complementares – que inclui, por exemplo, as áreas de telemarketing, segurança, portaria e limpeza, que têm em comum serem serviços prestados às empresas. A rubrica foi responsável pela extinção de 3,2 mil vagas.
O economista Ricardo Balistiero, coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, lembrou que, pela ótica da oferta, o setor de serviços responde por mais de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. “É um setor particularmente vulnerável a uma crise como essa porque não há como recuperar um serviço que deixou de ser prestado, diferentemente do que ocorre com a indústria”, explicou.
Balistiero destacou que a Medida Provisória (MP) 936, que reduziu jornada e salários, ajudou a segurar a quebradeira, mas os empresários têm enfrentrado dificuldades para obter dinheiro dos bancos, o que torna quase impossível manter a mão de obra, sobretudo nas micro e pequenas empresas.
Ainda segundo o Caged, a indústria fechou 4,1 mil postos de trabalho formais no ABC, mesmo número de empregos extintos no comércio. A construção civil, por sua vez, eliminou pouco mais de mil vagas.
Balistiero destacou que o impacto sobre o emprego fabril era esperado, haja vista o peso do setor automotivo na indústria da região. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a produção do setor despencou 99% em abril, enquanto as vendas caíram 76%.
O economista lembrou que os dados de maio tendem a ser piores e não há garantia de recuperação no emprego no segundo semestre, mesmo que a pandemia seja debelada.
Balistiero alertou também para o risco de abertura precipitada da economia – que, ao invés de antecipar a retomada, pode retardá-la.
“Nos países que começaram a flexibilizar o isolamento social, a curva de contaminação pelo novo coronavírus é descendente. O Brasil, por sua vez, começa a abrir o comércio em meio a recordes de número de casos e mortes. Se a abertura se mostrar um equívoco e o país tiver de adotar medidas mais restritivas, como o lockdown, o efeito sobre a economia será catastrófico”, previu.