A guinada em curso no setor automotivo brasileiro, que passa a focar a oferta de modelos maiores, mais caros e sofisticados em detrimento de carros menores e mais baratos, impõe desafios e abre oportunidades para os setores de autopeças e de máquinas e equipamentos.
A avaliação é de empresas do ABC que participaram, recentemente, de plenária virtual da regional de Diadema do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).
A estratégia das montadoras visa privilegiar a rentabilidade ao invés do alto volume. Reportagem publicada nesta semana pelo Estadãorevela que, dos 22 lançamentos já confirmados para este ano por fabricantes e importadores, 15 (68,2% do total) serão utilitários esportivos. Em 2020, os SUVs representaram 32,6% das vendas de automóveis no país, contra 7,5% em 2010.
Na mesma comparação, o segmento de hatches compactos caiu de 55,7% para 42,3%.
“Como as matrizes querem a distribuição de dividendos, as montadoras instaladas no país começaram a mudar seus planos estratégicos e a oferecer produtos de maior valor agregado. A partir do momento em que a gente toma ciência de que o mercado mudou, o setor de autopeças precisa ser muito rápido para fazer os ajustes em suas plantas”, afirmou Ignácio Martinez-Conde Barrasa, diretor corporativo da Autometal, indústria de autopeças com unidade em Diadema.
O setor de autopeças encerrou o ano passado com queda de 17,5% no faturamento, para R$ 124,5 bilhões, segundo o Sindicato da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças). Porém, os dois principais pilares do segmento tiveram desempenhos diferentes. Enquanto as vendas para o mercado de reposição cresceram 1,4%, para as montadoras recuaram 24,2%.
Se, por um lado, as empresas do setor sofrem pressão das montadoras por ganhos de produtividade e, consequentemente, de preço, o segmento tem sofrido com o aumento de custos de matérias primas como alumínio, aço e plástico – os quais, segundo Barrasa, são cada vez mais difíceis de repassar.
Para o executivo, as empresas do setor precisam intensificar ajustes de estrutura (ativos, mão de obra), definir claramente quais produtos têm rentabilidade e implementar programas de melhoria contínua da qualidade e inovação. “Com isso, acho que a gente sobrevive”, disse.
A mudança na estratégia das montadoras também deve impactar, neste caso positivamente, o segmento de máquinas e equipamentos. Paulo Tonicelli, diretor presidente da Prensas Schuler, de Diadema, destacou que 75% das vendas da empresa são destinadas ao setor automotivo.
“Com essa reestruturação nas montadoras surgiram oportunidades de negócio no Canadá e nos Estados Unidos. Graças a esses mercados, temos destinado 70% de nossa produção para exportação”, afirmou Tonicelli.
Mesmo com a ociosidade no parque automotivo brasileiro em torno de 60%, o executivo projeta aumento da demanda no mercado interno em 2021. Porém, segundo Tonicelli, as encomendas não serão destinadas ao aumento da capacidade das montadoras, mas sim à automação, digitalização e à melhora da produtividade nas linhas de montagem.
Em 2020, o faturamento do setor de máquinas e equipamentos cresceu 5,1% no país, para R$ 144,52 bilhões, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).