A Saab apresentou à imprensa as instalações do novo laboratório de manutenção de radares e sistemas de guerra eletrônica erguido na fábrica de aeroestruturas da empresa, situada em São Bernardo. O equipamento não teve o investimento divulgado, mas integra contrato assinado em 2015 com a Força Aérea Brasileira (FAB) para desenvolvimento e produção de 36 caças Gripen E/F, no valor total de 39,3 bilhões de coroas suecas, equivalentes a R$ 24,8 bilhões pelo câmbio atual.
A visita foi conduzida pelo novo diretor-geral da planta de São Bernardo, Fabricio Saito, acompanhado de outros executivos da empresa. Saito é formado em engenharia pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), tem carreira de três décadas na FAB e está na Saab há quatro anos.
O laboratório tem 600 m², entrará em operação no próximo ano e será operado por 20 profissionais, do total de 90 da unidade. Ficará responsável pela manutenção dos radares dos caças Gripen da FAB, bem como de seus sistemas de guerra eletrônica. É o único com essa competência no país.
O sistema de guerra eletrônica é capaz de monitorar sinais emitidos pelos elementos que estão no entorno do caça (como aeronaves, mísseis, radares de solo, entre outros), determinar se são amigos ou inimigos e propagar sinais para interferir no funcionamento dos inimigos, além de dissimular seus próprios sinais.
“O novo laboratório vai garantir o suporte do Gripen em todo seu ciclo de vida no Brasil pelos próximos 30 a 40 anos”, afirmou Saito. Além disso, “herdará” a manutenção de 13 radares meteorológicos espalhados pelo país que estava sob responsabilidade da Atmos Sistemas, empresa paulistana adquirida pela Saab no ano passado. Entre os clientes da Atmos figuram a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac) e a Defesa Civil de Santa Catarina (DC-SC).
O laboratório receberá uma bancada de testes formada por vários equipamentos – já adquiridos pela Saab sob orientação de engenheiros brasileiros – que simula sinais eletromagnéticos gerados pela aeronave durante o voo. Também poderá fazer ensaios ambientais, o que inclui variações de temperatura e umidade, e será operado por profissionais treinados pela empresa na Suécia, no âmbito do programa de transferência de tecnologia previsto no contrato com a FAB que já levou mais de 350 brasileiros para Linköping.
ESTRATÉGIA
Segundo o diretor-geral da fábrica, a conclusão das novas instalações está alinhada à estratégia da Saab de gerar negócios localmente além do contrato firmado com a FAB, que prevê a montagem de cinco conjuntos estruturais dos Gripen brasileiros.
“A tropicalização (da montagem) gerou entendimento do processo. Isso significa que, se a Saab disser: ‘preciso de um determinado componente estrutural’, a equipe da fábrica tem condições para avaliar as adaptações, os equipamentos necessários e apresentar um business case (projeto). O importante não é o ingrediente disponível na cozinha, mas ter um chef que saiba fazer carne, frango, peixe”, afirmou Saito, destacando que a planta de São Bernardo integra a cadeia global de fornecedores da fabricante sueca.
Montagem de aeroestruturas é um processo quase artesanal
A montagem das estruturas dos caças Gripen na fábrica da Saab em São Bernardo é um processo quase artesanal, como pôde constatar a reportagem do Diário Regional, que integrou o primeiro grupo de jornalistas convidados a conhecer a unidade. Para se ter uma ideia, a conclusão da primeira fuselagem dianteira – o mais complexo dos cinco conjuntos construídos no local – deve levar de 14 a 18 meses. A seção reúne mais de mil peças.
“Trata-se de uma curva de aprendizado. Assim, esse prazo deve ser encurtado, mas não dá para precisar quanto”, explicou o gerente de engenharia da Saab no Brasil, Alexandre Barbosa. A previsão é de que sejam montados no local 19 fuselagens dianteiras, das quais 15 para o Gripen E (monoposto) e quatro para o F (biposto), 24 fuselagens traseiras, 18 caixas de asa, 72 cones de cauda e 72 freios aerodinâmicos.
A fábrica de 5 mil metros quadrados foi inaugurada em maio de 2018, mas só começou a montar as seções do Gripen – com peças feitas na Suécia – em julho do ano passado. O primeiro conjunto concluído, um cone de cauda, foi enviado a Linköping em dezembro de 2020.
A planta brasileira emprega os mesmos ferramentais e softwares usados na produção do caça na Suécia, mas adaptados às condições locais de operação. Em todas as estações de trabalho, os engenheiros e técnicos têm acesso a um banco de dados 3D – o mesmo usado em Linköping – com todas as informações necessárias à manufatura, como dimensões, tolerâncias e instruções de montagem. Como resultado, a Saab conseguiu eliminar todo tipo de papel na área de produção, conceito conhecido como Paperless.
A área de aeroestruturas emprega cerca de 70 funcionários, dentre os quais suecos expatriados, alguns com mais de quatro décadas de experiência no setor aeroespacial. Sua presença no Brasil visa garantir a transferência de tecnologia prevista no contrato assinado com o governo brasileiro em 2015.
CRONOGRAMA
Em novembro de 2020, a Saab entregou os quatro primeiros caças adquiridos pela FAB. Essa leva foi produzida na Suécia. Do total de 36 aeronaves encomendadas, 15 terão a montagem final realizada na planta da Embraer em Gavião Peixoto (SP), onde um modelo de teste vem sendo avaliado desde o final do ano passado por pilotos da FAB.