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jul 21, 2021
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Retomada da produção de carros populares deve demorar

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A ruptura provocada pela escassez de semicondutores atingiu a indústria automotiva de forma indiscriminada, gerando perdas de US$ 100 bilhões, segundo estimativas da consultoria KPMG. Ao menos 5 milhões de veículos deixarão de ser produzidos neste ano, calcula a Boston Consulting Group (BCG). No Brasil, estima-se que até 120 mil unidades tenham deixado de ser fabricadas no primeiro semestre.

Nesse quadro de alta seletividade na fabricação, o Brasil tem a desvantagem de seu parque produtivo depender de modelos que não estão, no momento, na lista de prioridades. Esses modelos devem ser os últimos a voltar a uma produção sem restrições.

Os planos de produção das montadoras na América do Sul, onde o Brasil é o principal produtor, estão mais comprometidos que os de fabricantes da Europa. Essa é uma das conclusões do estudo da BCG usado como base na estimativa feita recentemente pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), de que o Brasil já deixou de produzir neste ano entre 100 mil e 120 mil veículos por falta de peças.

Segundo estima a BCG com base em dados do segundo trimestre, a falta de eletrônicos impediu 14% da produção planejada por montadoras sul-americanas. Na Europa, as fábricas deixam de produzir 9% do volume esperado. Só na América do Norte, onde as paralisações também viraram rotina, o impacto é maior do que aqui: 20% do total previsto.

Para o consultor Paulo Cardamone, da Bright Consulting, além de os fornecedores de semicondutores privilegiarem a indústria de tecnologia, em detrimento das montadoras, a cadeia automotiva direciona matérias-primas para produtos mais rentáveis. Nessa dinâmica, modelos populares vão para o fim da fila. “Não só no Brasil, mas em todo o mundo, esse tipo de produto será o último a voltar”, disse.

Segundo Besaliel Botelho, presidente da Bosch, grupo que fornece sistemas eletrônicos para as montadoras, a cadeia de suprimentos costuma evitar que apenas um ou poucos clientes fiquem com todo o volume disponível. Porém, a escolha de quais carros serão produzidos é uma decisão das montadoras. “Estamos numa situação em que o cobertor ficou mais curto para todo mundo”, afirmou.

PORTFÓLIO

Diante da escassez global de peças e componentes, a decisão das montadoras de direcionar os poucos materiais disponíveis para a produção de automóveis mais caros inverteu a pirâmide do mercado de veículos novos no Brasil. Os carros populares, que estiveram na base da pirâmide dos melhores anos das vendas de automóveis, hoje têm mínima parcela da produção da indústria. O protagonismo é dos modelos mais caros, em especial dos utilitários esportivos (os SUVs, na sigla em inglês).

Segundo levantamento feito para o Estadão/Broadcast pela consultoria Jato Dynamics, 68% dos carros vendidos no país atualmente custam acima de R$ 70 mil, enquanto os veículos abaixo desse valor representam os demais 32%. Até três anos atrás, a situação era inversa. Os veículos com preço acima de R$ 70 mil eram 40% do mercado.

A mudança de portfólio das montadoras já vem ocorrendo há quatro anos, em parte por causa da introdução de tecnologias exigidas pela regulação, que são mais caras. Os fabricantes também fizeram reorientação. Em vez de apostar no volume, preferiram buscar o reequilíbrio financeiro com produtos voltados ao público que pode pagar por mais conforto, espaço, conectividade, segurança e eficiência.

A pandemia introduziu novo elemento à equação, ao obrigar a indústria a ser ainda mais seletiva em razão da falta de peças à disposição.

Conforme o estudo da Jato, feito com base nos volumes de vendas de janeiro a junho deste ano, os carros que custam menos de R$ 50 mil, os mais baratos do mercado e que se resumem a subcompactos, representam agora só 3% das vendas.

O segmento formado por carros de R$ 50 mil a R$ 70 mil também perdeu participação. É ocupado por grande parte dos modelos de entrada das montadoras. Hoje, representa 29% das vendas, menos do que os 36% do ano passado.

É justamente nas duas faixas acima que estão posicionados modelos produzidos em fábricas que pararam por períodos mais prolongados desde o início da crise de abastecimento de peças, agravada nos últimos meses pela falta de componentes eletrônicos no mundo inteiro. A fábrica da GM em Gravataí, que produz o Onix – em tempos normais, o modelo mais popular do Brasil -, está parada desde março.

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